''As ruas são protagonistas, personificadas através de uma performance do corpo, pintura corporal terrosa e um figurino criado a partir de fuxicos que desafiam as limitações humanas e nos transportam para uma dimensão onde o urbano e concreto se fundem com o espiritual.'' - Andy Reis
Por breno luan e Milena Nascimento
na rua, a gente é a própria confluência residindo no caminho que construímos na nossa vida. cercados pela fé em algo/alguém, hoje entendemos a importância que a existência do nosso corpo-bara tem, dentro do que é a nossa realidade.
quando conceituamos o entendimento de “submundo”, nitidamente não é possível que ele se sustente sem que alguém tome posse regendo esse caminho que ele constrói no nosso entendimento. sendo assim, construímos a nossa própria divindade para honrar & ser uma ferramenta visual do que pesquisamos dessa imagética afrosurrealista. correlacionado diretamente com a energia da rua, a própria rua & à Bara – exu do corpo & movimento –, estocamos em uma só materialidade movimentável o que o nosso imaginário possibilita dentro desse conceito criativo.
a divindade vem como forma de performar o que existe em confluência nas ruas; no que compreendemos como energia da noite que nos cerca & nos acompanha; na nossa pesquisa de levantar embasamento, criamos essa interpolação para construir o que acreditamos ser essa divindade do submundo.
no fashion filme, ela se correlaciona com a rua – que é ela mesma – e performar nas encruzilhadas/vielas a cinésica cognitiva articulada no agora, para acessar o passado & construir o futuro dos que percorrem por esses caminhos. comunicando diretamente a importância do que é esse corpo-bara em movimento, quando possibilitado de pesquisa e diretamente em estado de transfluência.
a divindade dança o caos do submundo &, dentro dele, se faz performance fluida que movimenta a comunicação não verbal. é a cognição na imagética visual da pura vivência de encruzilhada.
O figurino da divindade RUA foi criado a partir do pensar na reafirmação das gambiarras enquanto tecnologias ancestrais, utilizando da técnica de fuxico, muito conhecida por costureiras donas do fazer artesanal e inspirada pelas criações da minha vó Maria Nascimento, grande costureira e minha maior referência no fazer indumentário. Cresci vendo ela criar peças do 0 a partir de retalhos tendo apenas a agulha e a linha como ferramenta.
O fuxico, é uma forma simples circular, que viabiliza uma infinititude de possibilidades, desde a criar um tapete ou colcha de cama como Vózinha faz, à criar também um figurino que represente de forma subjetiva, mas também visual e tangível, a Rua. A matéria prima que dá a base para a técnica aplicada no capuz, são infinidades de retalhos que vieram de algum lugar e por alguém, que não foram parar no lixo. Em especial para o capuz, retalhos de uma malha vermelha estampada com pixações em preto, parte da identidade visual construída para representar os muros da grajaú, a partir da criação e técnicas do pixo pelo Xinho Snamps, grafiteiro com grande bagagem na resistência da arte de rua.
é isso que as vielas significam no meu entender, entranhas de um corpo em movimento, o motivo pelo qual o corpo é vivo e se mantém de pé, é a parte mais profunda e intima do que é a rua em sua complexidade.
A costura por sua volta permite unificar a forma, criando-se volume e relevo. A união dessa forma, remete aos olhos uma representação simbólica das viceras, do amago, do interno e intimo. E é isso que as vielas significam no meu entender, entranhas de um corpo em movimento, o motivo pelo qual o corpo é vivo e se mantém de pé, é a parte mais profunda e intima do que é a rua em sua complexidade. O saiote e o bombacho, traz a semiose de Asó - indumentária de Asé - , compreendendo essa construção enquanto forma de honrar de maneira cuidadosa, zelando pelo respeito, o significado e importância da fé e como ela conflue com nossa existência através do vestir de si.
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